Canudos

Abalado pelas leituras de “Os Sertões” de Euclides da Cunha e de “A Guerra no Fim do Mundo” de Mario Vargas Llosa, peguei um avião e algumas horas de ônibus e fui à Canudos.

Queria conhecer um pouco do local de uma guerra que muitos apelidam de massacre. Queria ver um pouco da paisagem imaginada, tão diferente do sertão pernambucano (e tão parecida).Saber o que aconteceu com Canudos que foi defendida até o fim por “um velho, uma criança e dois jovens feitos, na frente dos quais rugiam raivosamente, seis mil soldados”.

Canudos hoje é uma cidade formada às margens do açude do Cocorobó, de pouco mais de 15.000 habitantes, de clima semi-árido e muito pobre. Situa-se no polígono das secas e tem muito lixo espalhado por suas ruas largas e encostas pedregosas.

Se chegar até Canudos é difícil ainda hoje, imagine em 1897. Uma estrada de cascalho te leva do Bendegó até Canudos, cercada pela mesma paisagem imóvel da caatinga. Se você não come na hora certa, é difícil achar comida. E água também foi complicado (em garrafa).

Mas Canudos conserva a força do sangue em seus habitantes e em seu aspecto. Dá pra sentir o que era o caminhar do Conselheiro, de cidade em cidade, buscando acalmar, tratar, lembrar… aconselhar seus irmãos de sofrimento. Dá quase para sentir a presença de Antônio Vila Nova, Pajeú, Pedrão, Taramela e tantos outros que cuidaram de sua saúde. Me senti em Bello Monte. Gostei de estar alí.

Canudos tem um dos parques biológicos mais importantes do Brasil, por abrigar as Ararinhas azuis, que um dia estiveram à beira da extinção. Hoje as ararinhas já aumentaram em número, driblando o ser humano e perpetuando a raça. Dizem que o parque é lindo. Dizem, porque fui aconselhado pela dona da pousada a esquecer meu desejo: não era permitido! A reserva é controlada por uma fundação chamada Biodiversitas, que tem como parceiros uma penca de instituições… gringas! A dona me disse textualmente:

– A bióloga americana me disse para dizer aos hóspedes que nem tentassem ir, porque não pode.

Vou tentar voltar em outubro.

O que assustou foi ver um Brasil que é muito diferente do RJ ou de SP ou da novela, ou dos anúncios. E que o verdadeiro “Big Brother” já te pede passaporte para visitar o teu próprio país.

É importante pensar na “missão” do Conselheiro: simplicidade, amor, cuidado com o próximo, e ao mesmo tempo união e resistência e luta e guerra para defender os direitos que consideramos inatacáveis.

Um dia eu falei da palestina e sobre a seca no Ceará. Canudos poderia estar na mesma canção.

E a guerra de Canudos, hoje, que é a guerra contra a pobreza, contra a seca, contra a falta de educação, contra o lixo, não seria também a guerra do mundo, de todos nós, todos os dias?

O que vai salvar o mundo é a sutileza. Perceber a gravidade do ser humano, que liga um ao outro, tecendo a teia da vida. Pequenos gestos, pequenas lutas, que do quando do lado de dentro achamos imensas e impossíveis, mas que, vistas do exterior, são lutas simples e objetivas, em nome de um amor maior.

Somos eletricidade

Voltarei a falar de Canudos. Achei um absurdo que é um lugar tão importante não tenha apoio das autoridades e que, como patrimônio tombado, não tenha a atenção permanente do governo federal ou mesmo estadual. Talvez se o exército tivesse sido vitorioso na primeira expedição (o foi na quarta) o parque estivesse mais preservado ou defendido. Ainda existem famílias que moram alí dentro do parque. Não saem porque dizem não terem recebido o dinheiro, destinado a eles como indenização, quando do tombamento.

Aonde está esse dinheiro? Ainda chegará?

Enquanto isso a história vai-se apagando pela erosão eólica e pelos passos dos visitantes nem tão interessados na paisagem, mas em rabiscar as placas e depredar objetos históricos. Isolada pela falta de uma estrutura que suporte o turismo, e muito menos o turismo controlado. E pela falta do interesse dos próprios brasileiros de procurarem saber um pouco da nossa  história, do nosso caminho, que nos trouxe à vida atual.

Perceber que nós só temos a nós mesmo para nos defendermos de todos os governos, empresas telefônicas, de TV à cabo, bancos ou entidades que nos tomam o país de floresta em floresta. Somos, também, Canudos. Precisamos também a sermos resistência, luta e união.

Estiquei demais o papo! Vou postar fotos e vídeos. Quem tem meu orkut já pode ver algumas fotos por lá. Estive de férias, mas agora voltamos com força total!!

Louvado seja nosso Senhor Bom Jesus Conselheiro!!!

Fui

5 ideias sobre “Canudos

  1. … parabeins, é um site perfeito para pesquisas! você teve ideias geniosas em criar um site tão bom, parabeins parabeins parabeins. beijos N?

  2. Olá. Sou de canudos, gostei muito do texto, as vezes é dificil bater de frente com a realidade da MINHA cidade, mas é bem isso que acontece, Canudos pede socorro.
    Abraço.
    P.S. Quando você esteve por aqui?
    Se quiser entrar em contato, é só mandar email.

Deixe um comentário para Gabriela Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *